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Foto: Pedro Piegas (Diário)
Para muita gente, a lista dos rituais de fim de ano contém algumas metas para a mudança de hábitos. O projeto Resilieight, idealizado pelo médico psiquiatra e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Vitor Crestani Calegaro, vai ao encontro do clima de quem pretende traçar resoluções para 2021. A iniciativa reúne oito passos para cuidar da saúde mental que podem ser tomados sem ajuda profissional. O projeto foi lançado em um vídeo que pode ser acessado no canal CovidPsiq.
De acordo com o professor, as dicas são o resultado de uma série de pesquisas sobre resiliência para sua tese de doutorado apresentada na UFRGS, em outubro de 2019, dos atendimentos à vítimas de sobreviventes da tragédia da boate Kiss e, ainda, da sua experiência no ambulatório de psiquiatria do Hospital Universitário de Santa Maria (Husm). No caso dos sobreviventes da Kiss, atendidos pelo Centro Integrado de Atenção às Vítimas de Acidente (Ciava), o estudo teve início em 2015 e foi até o final de 2017.
O Resilieight é um desdobramento do estudo que comparou as características das pessoas que lidaram com traumas de duas formas. De um lado está o grupo que desenvolveu alguma psicopatologia. Do outro, as pessoas que não tiveram sintomas. Com base na revisão bibliográfica sobre resiliência e com o aparato experimental da prática, o professor elencou as orientações que podem servir para a prevenção de transtornos mentais, como ansiedade, depressão e estresse.
- Comparamos as características pessoais, as personalidades dos indivíduos que desenvolveram psicopatologias e daqueles que eram considerados resilientes. A prática nos ajudou a entender melhor a resiliência e que características estão associadas às pessoas resilientes. A ideia de organizar dessa forma foi de levar para a população uma informação em forma de orientações que possam ser aplicadas no dia a dia - explica.
PANDEMIA
Calegaro também coordenou a CovidPsiq, pesquisa liderada pela UFSM que monitora a evolução de sintomas de estresse, ansiedade e depressão durante a pandemia do novo coronavírus no Brasil. O estudo já realizou três etapas e ouviu mais de cinco mil pessoas de todo o Brasil. Segundo ele, o isolamento, desemprego, o luto pelas mortes e outros reflexos da pandemia refletiram na saúde mental dos brasileiros. Por isso, surgiu também a preocupação com a capacidade de atendimento da rede à demanda de usuários, já que muitos serviços estão fechados.
O professor acredita que os oito passos podem ajudar as pessoas a ter acesso à psicoeducação, informação que cumpre o papel preventivo para a saúde mental. Assim, muitos podem lidar com o peso da pandemia sem ter de recorrer aos consultórios.
- A ideia é reforçar o lado saudável das pessoas e a capacidade natural de resiliência, que todos nós temos em algum grau - afirma.
Além do vídeo, o Resilieght prevê intervenções individuais e coletivas com os participantes da CovidPsiq e com profissionais da área.
CONFIRA AS DICAS
1- Cuide do seu corpo - Pratique exercícios físicos, evite hábitos que não são saudáveis, evite uso de substâncias estimulantes ou calmantes, o que inclui medicamentos, excesso de cafeína, entre outros
2- Conheça seus ritmos - O professor explica que temos vários ritmos na vida, como os ritmos biológicos e sociais. É importante manter o equilíbrio do sono com a vigília, estabelecer um período de férias, ou um tempo que seja para ficar sem fazer nada
3- Foque nas emoções e pensamentos positivos - As pessoas resilientes dão enfoque nos aspectos positivos das experiências. Tudo pode ser visto por um lado positivo ou negativo. Toda a experiência traumática pode servir para uma mudança positiva na vida do indivíduo
4- Tenha um propósito - O propósito é algo que se descobre ao longo da vida, segundo o professor. Ele faz sentido quando se descobre o que leva ao crescimento do indivíduo, e das pessoas que estão em volta dele
5- Tenha relacionamentos saudáveis - É fundamental ter uma rede de apoio de amigos, familiares e outros relacionamentos que sejam saudáveis. Isso não significa ter uma dependência do outro, mas contar com o suporte dessas pessoas. Também é recomendado fugir dos relacionamentos que são tóxicos
6- Invista nos seus recursos internos - Valorize aquilo que você tem de bom, fortaleça seu conhecimento a sua preparação para os eventos estressantes que podem surgir. O professor orienta a gastar menos tempo nas redes sociais, mais tempo com livros e experiências que fortaleçam internamente o indivíduo
7- Pratique a aceitação e gratidão - Aceite as coisas que não pode mudar na vida. Tem coisas na vida que não têm volta, como as situações de morte. Conforme o estudo, é preciso se reconciliar com o passado e entender que as experiências fazem parte da vida e ajudam no crescimento pessoal. Agradeça aquilo que você tem e não fique focando naquilo que você perdeu. Se tem a vida, isso já é um motivo para agradecer
8- Cultive crenças pessoais - As pessoas têm crenças que norteiam o jeito como entendem a realidade. Podem ser crenças religiosas, espirituais, individuais, etc. É importante que o indivíduo dê vazão a essas crenças, tenha proximidade com pessoas que pensam que acreditam nas coisas que ele acredita. As mesmo tempo, é fundamental tolerar as crenças dos outros e tomar cuidado com crenças que levam à culpabilização e à tristeza. O professor ressalta que só não se pode deixar de acreditar, já que a desesperança é algo muito associado à depressão